Cachorro – filho, amigo ou animal de estimação?

Já se foram os tempos em que o cachorro ficava apenas no quintal da casa e comia restos de comida. Hoje em dia, uma boa parte deles vive bem mais perto dos humanos, em apartamentos ou dentro da casa.

Com esta aproximação, muitos acabaram se tornando membros da família e outros permaneceram na condição de animais de estimação. Mas há quem os considere como amigos e também como filhos.

Este é um assunto que tem gerado muitas discussões e polêmicas. Então, vamos ver as diferenças:

O animal de estimação

Normalmente, quando alguém considera seu cachorro como um animal de estimação, está bem ciente da sua condição de animal. É como se existissem departamentos separados: o das relações humanas e o das relações com os animais de estimação.

Em linhas gerais, a vida desta pessoa não gira em torno do animal. Ele é um ser bem vindo, estimado, mas não uma prioridade.

Dificilmente esta pessoa abrirá mão de oportunidades em sua vida, como viagens, mudança de emprego ou de residência, casamento, entre outros, em função do cachorro. Ele poderá ficar com outra pessoa da família, ser doado ou mesmo abandonado, na pior das hipóteses. Isso irá depender do grau de afetividade e do caráter da pessoa.

Em certa ocasião, tive o desgosto de conhecer uma moça que teve uma cachorrinha de estimação por dois anos. Ela vivia sozinha e começou um relacionamento com um rapaz casado que morava no mesmo prédio. Um dia, a esposa ficou sabendo do caso e ameaçou o casal. Os dois resolveram fugir juntos para outra cidade, mas o homem não quis que a cachorrinha fosse também. Assim, no dia da mudança, a moça simplesmente deixou a cachorra no caminhão da mudança e nunca mais soube dela.

Em grande parte das situações, a pessoa convive com o cachorro, mas não é ela a responsável direta pelos cuidados com o animal. Pode ser a mãe, a esposa ou outra pessoa da família. Há também os que são os responsáveis diretos e fazem o papel de donos, cuidando da alimentação, saúde e lazer do animal. Possuem senso de responsabilidade, sem, no entanto, considerarem o animal como um amigo ou filho.

O amigo

Dentre as várias definições de amizade, gosto daquela que diz:

“Amizade é a relação afetiva entre os indivíduos, onde existe uma reciprocidade de sentimentos como carinho, lealdade e senso de proteção”.

Assim, quando você considera seu cachorro como um amigo, não está levando em conta apenas os seus sentimentos por ele. Considera também os sentimentos dele por você, já que a ligação tem foco na reciprocidade do afeto, confiança e companheirismo.

Diversas pesquisas já mostraram que os cachorros apresentam alterações cerebrais quando sentem o cheiro de seu dono ou quando recebem dele um carinho. Sem contar as inúmeras demonstrações de desejo de proteção que eles nos dão.

Os cachorros podem ser excelentes companheiros em passeios e viagens, assim como em atividades diversas, dentro e fora de casa. É certo que cada um tem um temperamento e há os que combinam mais ou menos com o estilo de vida do dono.

O que existe de muito bom na amizade entre pessoas e cachorros é a estabilidade em virtude da confiança mútua que se estabelece. O cachorro é um ser leal por natureza e demonstra isso de várias formas. Ele é incapaz de sentir inveja ou rancor e te admira do jeito que você é. Perdoa com facilidade e aprecia a sua companhia.

Os cachorros conseguem detectar nossas variações de humor, tristezas e alegrias e muitas vezes assumem uma postura de nos dar conforto e apoio. Entretanto, como em qualquer relacionamento, não existe perfeição. Caberá a nós, humanos, manter o equilíbrio. Os cães podem ser ciumentos por exemplo. Precisamos estar atentos ao que eles nos dizem, mesmo sem palavras. Temos a responsabilidade de interpretarmos seus sinais para que possamos lhes oferecer uma vida alegre e saudável.

O filho

É natural que muitos de nós interpretemos a relação com o cachorro como a de mãe e filho, ou pai e filho, em função da dependência que eles têm de nós.

A dedicação e os cuidados são muito semelhantes aos dos pais com as crianças, sobretudo com os bebês.

Em geral, há uma entrega muito grande destas pessoas a seus animais, algumas tomam decisões estratégicas em suas vidas, levando em conta a vida do animal. É comum que a pessoa que se considera mãe (ou pai) do cachorro seja a responsável principal pelos cuidados com ele.

O relacionamento engloba todas as questões da amizade, mas com uma ênfase maior na responsabilidade que temos em cuidar deles. É praticamente uma declaração de amor incondicional.

O cachorro deve ser educado, para o seu próprio bem, a fim de atingir o maior grau de independência possível, de forma que fique confortável quando tiver que permanecer sozinho por algum tempo. Alimentação saudável, conforto para dormir, cuidados com a saúde, socialização e atividades de lazer, aliados a muito carinho, é o que ele precisa.

De fato, não é a mesma coisa que criar um filho humano. Esta é uma difícil missão, que envolve a transmissão de valores éticos e religiosos, entre outros. É uma das tarefas mais complexas da vida e por isso causa uma imensa irritação em algumas pessoas, quando comparada à tarefa de criar um filho canino.

Entretanto, existem algumas coisas comuns: a mais evidente é a relação de hierarquia do filho para com os pais. A outra é o imenso amor que sentimos por eles.

O que há de mais difícil em considerar um cachorro como filho, é aceitar que a vida dele é bem mais curta que a nossa e saber que um dia iremos enfrentar a dor por sua morte.

Conclusão

Na verdade, não importa como você classifica seu cachorro.

Filho, amigo ou animal de estimação, o importante é que exista uma relação equilibrada, que tanto faça bem ao animal quanto ao humano. Sendo assim, fará muito bem a ele ter suas características e necessidades típicas de sua espécie, respeitadas.

De qualquer forma, há de se ter a consciência de que o cachorro não é um ser descartável, que ele precisa de atenção, cuidados e responsabilidade.

E você? Como interpreta a sua relação com seu cachorro? Conte para nós nos comentários.

Créditos Fotos:

Photo by Dominika Roseclay from Pexels

Photo by Helena Lopes from Pexels