História das estrelinhas
Minha História com o Prince
E assim ele entrou na minha vida
Em 2003 minha mãe, já aposentada há alguns anos, recebeu uma proposta para ficar com um cachorrinho maltês recém nascido, filhote de uma cachorrinha pertencente a uma prima.
Ela ficou cerca de 2 semanas pensando se aceitaria ou não e pediu minha opinião. Achei que para ela seria ótimo, assim teria uma companhia. Cá com meus botões pensei: eu nem vou ver esse cachorro, vai estar dormindo quando eu sair de manhã para trabalhar e à noite quando eu chegar também.
O fato é que minha mãe decidiu ficar com o tal cãozinho e quando ele completou 2 meses, fomos buscá-lo na casa da prima. Assim que ele me viu, veio direto para o meu colo. Eu, que nunca tinha tido um cachorro antes, não tinha a menor idéia do que aconteceria nos próximos anos.
Minha mãe o chamou de Prince.Uma veterinária conhecida veio em casa para uma primeira consulta e aplicação de vacinas. Ela nos contou que o maltês em geral é bem bravo e dominador. Eu e minha mãe demos risada. Como? Aquele cachorrinho tão quietinho e bonzinho?
Não preciso dizer que a veterinária estava certa e descobrimos em pouco tempo que ela tinha toda a razão. Bravo e dominador, exatamente isso. Mas comigo e com minha mãe, ele era muito carinhoso.
Meu companheiro inseparável
Durante os primeiros seis meses de vida, o Prince dormia no quarto da minha mãe. Depois disso, foi por vontade própria dormir no meu quarto. Eu tinha mania de usar dois travesseiros para assistir TV e quando queria dormir, jogava um no chão ao lado da minha cama. Quando vi, quem estava lá deitado no travesseiro? Prince. Assim, passou a ter uma nova caminha, bem ao lado da minha.
E aquela história que eu nem veria esse cachorro? Ora, além de dormir no meu quarto, ele acordava na mesma hora que eu, onde quer que eu estivesse dentro de casa, lá estava ele comigo, e não dormia enquanto eu não chegasse em casa à noite. Sempre ficava me esperando, inclusive para comer a ração. Virou meu companheiro inseparável.
Minha mãe, às vezes, ficava horas com ele em cima da cama, insistindo para que comesse a ração e ele se recusava terminantemente. Chegou até a levar uns tapinhas, mas nada dava certo. Assim que eu chegava, ele passava uns cinco minutos fazendo aquela festa, e logo já ia comer a ração.
Bravo, mas só com os outros
Até quase uns dois anos de idade, o Prince era danado. Mordeu os pés de todos os móveis, pegava as coisas escondido e levava para baixo da mesa da sala. Nada escapava: óculos, chinelos, roupas. Sem contar as intermináveis vezes em que picotava o jornal e puxava o rolo de papel higiênico inteiro.
Até aí, minha mãe dava banho nele em casa, na pia mesmo. Quando ele via a toalha e o sabonete, já saía correndo. Quando minha mãe já não estava mais dando conta de dar o banho nele, passei a levá-lo na Pet Shop toda semana. Mas eu não o deixava lá para buscar depois, eu ficava esperando. Assim que o colocavam de volta no meu colo, já de banho tomado, ai da pessoa que estivesse por perto. Ele latia muito e mordia o primeiro que se aproximasse, menos eu, é claro.
Durante toda a vida, o Prince foi assim. Ninguém podia chegar em casa, que era um festival de latidos e mordidas. Mas, uma vez que chegou, também não podia ir embora. Lá ia o Prince com a dentada certeira no pé da pessoa.
Eu que o levava para passear, tomar banho e ao veterinário. Ele começou a desenvolver uma alergia de pele, precisando tomar antibióticos de tempos em tempos, e eu era quem dava.
Eu, neurótica?
Morávamos em um apartamento e, quando o Prince tinha três anos, mudamos para uma casa. Eu tinha ouvido histórias de cachorros que saíram na rua quando o dono abriu o portão e que tinham sido atropelados. Eu tinha verdadeiro pavor que isso acontecesse com o meu pequeno companheiro. Sempre pedia para minha mãe fechar a porta da sala, para que ele não tivesse acesso à garagem quando eu chegasse com o carro. Minha mãe dizia que eu era neurótica, e acho que ela tinha razão. Uma vez saí com o carro por alguns instantes e quando voltei, a vizinha estava conversando com a minha mãe, que deixou a porta aberta. O Prince saiu correndo, foi parar no meio da avenida onde morávamos, onde inclusive passavam ônibus. Não pensei em mais nada, fui pegá-lo no meio da avenida, por sorte não vinha carro nenhum nesse momento, senão teríamos sido atropelados juntos.
E começaram as convulsões
Foi nessa época que, uma vez, na Pet Shop, logo após tomar banho, enquanto secava, o Prince teve a primeira convulsão. A veterinária o socorreu, mas ele começou a ter convulsões periódicas. Fiquei arrasada, mas soube que isso era relativamente comum e que não representava um grande risco para a vida do cachorro.
Alguns anos mais tarde, já com seis anos, as convulsões ficaram mais intensas e mais frequentes. Foi quando a veterinária prescreveu um medicamento anti-convulsivante, a ser ministrado a cada 12 horas, tarefa que assumi e mantive infalivelmente até seu último dia de vida.
Felizmente, com a dose bem ajustada do medicamento, as convulsões cessaram por mais de três anos seguidos.
Minha alma gêmea canina
O Prince levava uma vida bem saudável e cada vez mais nos tornamos inseparáveis.Eu sempre dizia que ele era minha alma gêmea canina. E não era à toa, pois tínhamos um entrosamento perfeito. Ele sempre atendia o que eu pedia e eu “quase” sempre atendia o que ele pedia. Nunca nem sequer ameaçou de me morder, nunca tivemos qualquer tipo de desentendimento.
O carinho e atenção eram permanentes dos dois lados. Nunca nos afastamos. Todos diziam que perto de mim, ele era um outro cachorro. Com certeza queria me proteger. Minha mãe falava que ele me olhava com um olhar compriiiiido, e que só pra mim olhava daquele jeito. Parecia apaixonado. Uma paixão correspondida, pois eu era verdadeiramente louca por ele.
E o coração cresceu demais
Quando tinha nove anos, o Prince teve uma pequena hérnia e veio a necessidade de ser operado. Com isso, pedi que fossem feitos todos os exames preventivos, para evitar qualquer problema. No eletrocardiograma acusou que ele tinha um pequeno sopro no coração, mas que não era grave. Inclusive, não apresentava nenhum sintoma.
Cerca de um ano e meio depois, o Prince começou a ter uma tossinha chata, logo depois de ter tomado as vacinas. Achei que pudesse ser uma reação da vacina contra gripe, mas um novo eletrocardiograma acusou um problema mais grave no coração.
Isso aconteceu no começo de 2014, pouco antes do Prince completar 11 anos. Por recomendação da veterinária, levei-o ao cardiologista e um ecocardiograma acusou que ele tinha endocardiose. Um defeito congênito de uma das válvulas do coração, que provocava um mal funcionamento e inchaço do coração.
Imediatamente, o Prince começou a fazer o tratamento, tomando medicamentos para controlar a pressão e fortalecer o coração.
A doença do Prince era degenerativa e incurável. Mesmo assim, com o tratamento, ele estava bem. Só tossia um pouco às vezes.
Cuidados e mais cuidados
Com o passar do tempo, e bem lentamente, os sintomas foram se agravando e novos medicamentos foram incorporados ao tratamento. Eu o levava ao cardiologista, inicialmente a cada três meses, e depois a cada dois meses. Além do problema cardíaco, o Prince também tinha uma bronquite crônica, que o fazia tossir mais ainda.
Nos últimos meses de sua vida, ele precisava fazer inalação diariamente e tomava quatro medicamentos para o coração. As convulsões voltaram e tivemos que aumentar a dose do anti-convulsivante também.
Apesar de tudo isso, o Prince ainda estava gordinho e vivia alegre. Mas eu ficava sempre muito preocupada quando chegava em casa e ele fazia aquela festinha de sempre. Agora já não fazia bem para ele.
Ansiedade e preocupação
As crises de tosse durante a madrugada me tiravam o sono e eu costumava dizer que cada tossida que ele dava era uma facada do meu coração.
Eu vivia muito ansiosa e preocupada. Já sabia que ele não viveria muito mais e a ideia de ficar sem o Prince me atormentava o tempo todo. Eu não conseguia imaginar a minha vida sem ele.
Um dia, ao chegar em casa, ele estava tendo uma grave crise respiratória. Corri com ele à clínica veterinária e lá fiquei por quase duas horas aplicando oxigênio. Ele estava com edema pulmonar. Depois de tomar algumas injeções, ele melhorou e voltamos para casa. Na mesma semana, fomos ao cardiologista, que prescreveu mais dois medicamentos.
Agora o Prince estava tomando seis medicamentos para o coração.
Dedicação 24 horas por dia
Depois deste dia, ele não voltou mais a ser o mesmo. Começou a emagrecer rapidamente e a ficar extremamente cansado. A tosse ficou fraquinha e mais constante, já quase não latia, e deixou de ser aquele cachorrinho bravo que avançava pra todo mundo.
Tirei férias do trabalho e passei os últimos 15 dias da vida dele com ele 24 horas por dia. Eu disse a ele tudo o que eu queria, fiz muito carinho, dei toda a atenção, até dançamos.
Por algum motivo, eu já sabia que ele não estaria mais comigo quando eu voltasse a trabalhar. Há tempos eu dava banho nele em casa, numa banheira de bebê, para que ele não ficasse estressado indo ao Pet Shop. Não sei como, mas durante o último banho, eu sabia que seria o último.
Do jeito que pedi a Deus
Eu tinha muito medo que ele tivesse um outro edema pulmonar e morresse desesperado, sem conseguir respirar, ou internado na clínica, sozinho, tomando injeções e mais injeções e oxigênio. Ou então, que ele parasse de se alimentar, de andar, ficasse tão magrinho a ponto de podermos ver as costelas, amuado, triste.
Mas nada disso aconteceu. Ele ainda estava andando, comendo e alegre como sempre. Cansado sim, muito cansado. Só no último dia é que ele aparentou estar realmente desconfortável. Peguei na cabecinha dele, uma mão em cada orelha, como sempre fazia, ele levantou a cabeça e olhou para mim com um olharzinho cansado, como se estivesse dizendo: desculpe, não estou aguentando mais. Pensei comigo, então, vai em paz, meu amorzinho, não se preocupe comigo, que vou ficar bem.
Ele foi então na garagem e quando voltou, não conseguiu sustentar as patinhas e caiu.
Na mesma hora eu o peguei no colo e notei que desta vez ele não estava com o coração acelerado e nem com a respiração ofegante. Ao contrário, o coração batia bem devagarinho.
Sem desespero, coloquei-o em cima da minha cama. Eu e minha mãe ficamos fazendo carinho nele e em poucos minutos ele se foi. Deu seus últimos dois latidos e se foi.
Com uma expressão de paz, ficou deitado, já sem vida, mas com os olhinhos abertos por algumas horas. Dia 14 de janeiro de 2016.
Saudade eterna
Foram quase 13 anos de vida. Não sei descrever a dor que senti. Ao mesmo tempo que fiquei aliviada pela forma como ele se foi, senti que uma parte de mim estava indo embora.
Penso que agora ele virou um anjinho de verdade e que está sempre comigo, dentro do meu coração. A saudade é grande e só aumenta, mas a tristeza vai diminuindo aos poucos.
Eu e o Prince fizemos um pacto há muito tempo atrás. O primeiro que chegasse lá em cima esperaria o outro, e quando o outro chegasse, faria aquela festinha, e viveríamos juntos pra sempre.
Foi uma honra e um privilégio ter convivido por todos esses anos com essa criaturinha divina, que veio aqui pra me ensinar o que é o amor, incondicional e eterno. Sei que me transformou em uma pessoa melhor, mais sensível, menos egoísta, abençoada.
Agradecimentos
Gostaria de agradecer, em primeiro lugar a Deus, que me deu esse presente maravilhoso e o levou embora da forma que pedi em minhas orações, e também à Fátima, cuidadora de minha mãe, que me ajudou a cuidar do Prince durante um ano e meio, enquanto eu trabalhava, ela fazia a comida dele, dava remédios, aplicava inalação, entre outras coisas. Também agradeço a minha amiga Ane, que o levou a pé até a clínica veterinária, já sem vida, com muito carinho e respeito, pois sabia que ele não gostava de andar de carro, e foi a pessoa que melhor entendeu o meu sofrimento e muito me apoiou nos dias seguintes.
Se você já teve um animalzinho de estimação que virou estrelinha e gostaria de contar a sua história com ele, mande a história e fotos por e-mail para [email protected]. Se for selecionada, publicaremos no blog.
Deixe um Comentário